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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

VOCÊ JÁ VIU LOBISOMEM?

Atualizado: 16 de ago.




 

A ideia sobre a existência ou não de um tal "lobisomem" permeia a imaginação popular desde sempre. Particularmente, no Brasil, nos antigos rincões, o imaginário coletivo sempre o tratou como verdadeiro e inúmeros são os casos de aparições misteriosas do tal bicho-homem. Passados de geração para geração, por meio da oralidade, em rodas de conversas, ao pé do fogo, esses “causos”, geralmente, são tidos como “lorotas”, ou mentiras pra ser mais exato.

No entanto, o que irei relatar, mais adiante, não é fruto de história ouvida em noite de contacao. Trata-se de uma vivência individual, que tive faz uns bons anos, quando ainda jovem, lá pras terras de Mangaratiba, no estado do Rio de janeiro.

Pra vocês entenderem o que aconteceu, precisarei fazer uma breve retrospectiva no tempo e desenhar o contexto que envolveu essa experiência de deixar a pele arrepiada.

Tio Abaúna e Tia Raquel, pais de Sonia, prima querida e Flávio, professor , meu primo e irmão de coração, eram, dentre outros filhos, os mais próximos. Todas as vezes que eu ia ao Rio de Janeiro, em minhas férias, era recebido com muita festa e carinho pela família Oliveira da Silva.

Moravam naqueles tempos no, então, distante bairro de Campo Grande, terra onde nasci, e tive minhas primeiras referências de existência ancestral.

Lá conheci Florisia Rosa, minha avó paterna, e sua casa acolhedora na estrada das Capoeiras, ponto de encontro de tias, tios, primos, primas e de tantas outras gentes, que mal consigo lembrar! Lugar de brincadeiras e mistérios.

Tempos mais tarde, já na fase adulta, continuei minhas idas e vindas entre o Rio e São Paulo, porém, o destino era, então, a casa dos pais de Soninha, como a tratava, próxima à Estrada do Cabuçu, meu refúgio predileto, onde a cara rabugenta da opressão evangélica, onde cresci, não me alcançava.

Durante anos, quando lá chegava, era recebido com alegria e convidado a viajar com a família de Flávio para uma casa na praia de Junqueira, localizada na cidade aprazível de Mangaratiba, e à época quase desconhecida.

Esse cenário foi o ponto de partida, onde as coisas começaram a acontecer, naquele inesquecível final de tarde.

Estava na casa, curtindo o sol, a cerveja e tudo de bom que o ar da praia proporciona, quando comecei a sentir dores insuportáveis na altura dos quadris. As malditas “pedras nos rins” exigiam o seu quinhão daquela bela paisagem e cobravam por isso.

Fui levados às pressas para o pronto socorro local, e medicado. A dor era intensa e resolvi, dali mesmo, voltar para Campo Grande e procurar um serviço médico melhor.

No entanto, o trajeto de volta exigia um “malabarismo temporal”. O ônibus que saia de Mangaratiba, por volta das 22:00 horas, me levaria até a metade do caminho. (Acredito que fosse até a cidade de Itaguaí), e deveria coincidir com a chegada da outra linha, que me levaria ao meu destino.

Quando cheguei ao ponto final, para fazer a baldeação, ou seja, a troca de coletivo, vi, desconsolado, o outro ônibus partir, pois havia se adiantado.

Fiquei ali, naquele lugarejo desconhecido, sem saber o que fazer. A dor era intensa, e resolvi buscar algum hospital para ser atendido.

Ao me deslocar por algumas ruas escuras, onde as casas eram raras, me deparei, em meio ao breu, com um largo portão de madeira, que me deixava ver um espaço circular, como se fosse uma praça , circundada por pequenas casas, como uma vila.

De repente, na parte oposta de onde estava, percebi algo se movimentando no anonimato que a ausência de luz proporciona. Apertei bem os olhos, desafiando meu astigmatismo, e vislumbrei uma sombra vindo em minha direção.

Com movimentos rápidos, “a coisa” não tardou a se aproximar. Sai em disparada pelo portão, refazendo o caminho de volta. Já na rua, percebi que era inútil continuar a correr.

Com a cabeça em turbilhão, e dominado pelo pânico, pensei: “agora é tudo ou nada”! Com um movimento rápido, estanquei no lugar abruptamente, e me voltei para o ser que me perseguia.

Me deparei com uma espécie de cachorro grande, sob pelos escuros e sem brilho. Olhei nos seus olhos e disse com voz firme” Se você se aproximar, eu te mato” (entre dentes, me escorregou um palavrão).

O animal, se assim posso chamá-lo, de repente sentou, abaixou a cabeça e ali ficou por alguns segundos. Aos poucos, lentamente, se movimentou, com o rabo entre as pernas, desaparecendo na escuridão.

Sem quase acreditar, no que havia acontecido, fui caminhando sem rumo e quando me dei conta, estava deitado na maca fria de um hospital público.

Fui medicado com baralgin e aguardei o amanhecer para pegar o primeiro coletivo da manhã de volta a Campo Grande.

Essa, certamente, é uma das experiências mais aterrorizantes de minha juventude e que permanece viva na memória afetiva.

O que era, de fato, não sei dizer ou explicar até os dias de hoje. Mas posso afirmar, sem receio de ser leviano, que os calafrios que me atacam, depois de tantos anos, ao recordar essa história são bem reais e assustadores.


E você, já viu lobisomem?



 

A Literatura Popular é muito presente em nossa cultura. Como professor de Literatura Infantil, desenvolvi, ainda nos anos de 2013, um projeto sobre "Contos de tradição oral", para algumas turmas de Pedagogia e o resultado foi muito bom.

Recentemente, iniciei a catalogação e digitalização desse material, que denominei "Memórias Pedagógicas".

Um dos primeiros trabalhos digtailzados, que se intertextualiza com a narrativa deste post, compartilho como vocês.


Espero que apreciem.


Se você Inda não é inscrito em nosso canal “Convergencias “, fica aqui o convite.











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