Da direita para a esquerda: Saulo, Nescau, Sandra, Flávio e sua esposa.
Em uma das muitas vezes que viajei ao Rio de Janeiro, pude rever o amigo Flávio. Um sujeito afável, boa praça, pra ficar no jargão do senso comum, um espírito acolhedor que não sabia dizer não.
Professor, trabalhista de carteirinha, foi admirador de Brizola, Darcy Ribeiro, entre outros. Sempre esteve alinhado com o lado progressista da vida política do país, particularmente, na região de Campo Grande, distante do centro e considerado, segundo estudos, como o maior bairro do Brasil.
Também tínhamos em comum o gosto pelo melhor e maior time do Brasil, ao menos em minha modesta opinião, o Botafogo de Futebol e Regatas, ou, simplesmente, o “Glorioso”.
Recordo-me que em minha juventude viajava com seus pais para uma pequena praia, Junqueira, localizada na cidade de Mangaratiba e próxima a rodovia Rio –Santos. Essa é a mesma Mangaratiba, referenciada e imortalizada na obra de José Mauro de Vasconcelos, “O meu pé de laranja lima”.
Para lá ia toda a parentela, tios, primos, amigos. Era uma praia linda, onde a vida corria diferente, mais solta, mais leve.
Nessas viagens, encontrava meu Primo e discorríamos sobre assuntos diversos, dentre os quais não faltava a política, e claro, conversa regada a uma boa “gelada”. Naquele momento, meu gosto pela esquerda já despertava, e se abria em busca de respostas para as inquietações decorrentes da injustiça social, da fome no país, da ausência de políticas públicas eficazes entre outras mazelas da vida nacional. No entanto, foi no ano de 2013, que voltei ao Rio, depois de muito tempo ausente (e lá se vão praticamente 10 anos). Agora, casado, com uma filha quase adulta, porém, na bagagem levei muita saudade do Primo e da terra onde nasci, meu Rio de Janeiro, pedaço de uma existência.
Sem querer me alongar, pois, afinal, as lembranças devem ficar guardadas no coração como sentimento positivo, que nos fazem recordar o que a vida tem de melhor, gostaria de compartilhar essa viagem em especial.
Certa noite, Flávio convidou a mim e a Sandra, minha querida Companheira de todas as horas e estradas, para irmos ao “Bar do Nescau”. Uma espécie de “pub” a moda carioca, localizado em Campo Grande. É tido pelos frequentadores como o melhor da região, pois oferece diversas opções de aperitivos e bebidas. Ali, nesse bar bastante aconchegante, pude tomar uma boa cerveja com alguns tira-gostos e boa conversa.
A certa altura do papo, Flávio me disse que o “Nescau", dono do estabelecimento, tinha uma foto em que o Primo em comum, o Lico, estava vestindo a camisa do Fluminense que, segundo a narrativa, havia jogado no Tricolor carioca. Ele iria conversar com o “Nescau” e tirar uma cópia da foto e me enviar.
Voltei para São Paulo e fiquei aguardando.
Nesse meio tempo, as redes sociais cresceram, a vida digital passou a ditar algumas normas e costumes, e, de certa forma, facilitaram os contatos e as conversas. Também houve a inauguração do Bistrô Garagem, 256, localizado na Rua César Garcez, 256, em Campo Grande.
Na verdade, essa era a casa de seus pais, que foi transformada em bar, pelo Primo Flávio, onde se consumia excelente culinária, e de quebra um impecável repertório musical ao vivo. Ao som do chorinho, bossa nova, samba e outros gêneros, ouvia-se frequentemente do anfitrião sorridente, entre as mesas da clientela, a expressão que marcava sua simpatia: “Que beleza”!
Quinta-feira passada, recebi a notícia de que havia partido.
Parte de nós partiu com você, meu amigo.
Fiquei aguardando (na memória) a foto com o primo Lico, vestindo a camisa do Tricolor e que seria doada pelo “Nescau”.
Você se foi, assim, de repente, e ficou me devendo essa, meu Primo!
(In memorian – ao Primo e Amigo, um irmão que nos deixou, Flávio Oliveira da Silva - 13-04-2023)
Uma palhinha do repertório do Bistrô Garagem - 256
Luis Rocha e seu regional – 26-08-2022
Vídeo 01
Vídeo 02
Como costumo dizer, ainda bem que temos as fotos, apesar de que o melhor, sempre estará para sempre em nossos corações! Sinto pelo sua perda, um amigo é tudo de bom na vida! Abraços. 🌹