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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

UM CONVITE PARA LER "O TRABALHO DE SÍSIFO".

Recentemente, fui convidado pelo amigo e autor Jair Farias para realizar, em primeira mão, a leitura do seu mais recente romance: "O trabalho de Sísifo".

Antecipadamente, sabia da responsabilidade para a realização de uma leitura atenta, crítica, que desse o tom para uma afinação interpretativa entre a obra e o leitor.

É nessa perspectiva, que compartilho a seguir minhas reflexões, esperando ansioso pela publicação desse seu novo trabalho.


 

O TRABALHO DE SÍSIFO


De Jair Farias

Resenha


O desafio de interpretar uma obra pelo nosso olhar envolve um processo subjetivo de reconstrução que, quase sempre, evoca lembranças armazenadas ao longo de nossa própria existência, fazendo-nos perceber a nós e ao outro; e quiça o mundo a nossa volta.

A leitura de “ O trabalho de Sísifo”, de Jair Farias, vai nessa direção, pois é uma provocação, muito bem arquitetada, ao olhar escrutinador, que acredita, nas entrelinhas, encontrar uma espécie de “mea culpa”, não-intencional, do autor.

Porém, é preciso afirmar, antecipadamente, que essa constatação se traduz em ledo engano; pois, tomando-se o conceito de autoria, na visão de Barthes, sociólogo e crítico literário francês, o leitor passa a existir, quando o autor deixa de existir.

O enredo apresentado se caracteriza por uma circularidade subjacente, que envolve, não apenas o traçado geográfico, por onde caminha a personagem central, mas se metamorfoseia em uma constante repetição de emoções muito profundas como em um filme em preto e branco.

O tema da morte, representado pelo suicídio de Getúlio, por exemplo, surge no traçado planejado pela genialidade da narrativa, funcionando como uma espécie de mola impulsionadora de questionamentos, sentimentos e lembranças, compartilhados, de forma cúmplice, com o leitor. Este é convidado a conviver, momentaneamente, com o turbilhão de lembranças do protagonista, que caminha pelas ruas da Metrópole, como se estivesse refazendo os passos de sua própria vida, avaliando as decisões tomadas em diferentes circunstâncias.

Outras personagens surgem em encontros e desencontros, que se confundem com fragmentos da juventude, experiências com amores idealizados, afetos, desafetos, encantos e desencantos, como o amor, que nutria secretamente por Juliana.

Nessa perspectiva, destaca-se, ainda, o “Cidão”, como um não-eu, amigo dos tempos de bebedeiras nos botecos do boêmio bairro do Bixiga, guardando segredos de tesouros perdidos no imaginário coletivo.

À medida que a narrativa avança, mais se (des)conhece a personagem principal e o resultado dessa introspecção existencial. Essa percepção, por mais paradoxal, que possa parecer, certamente, foi pensada como estratégia para aguçar a curiosidade do olhar questionador, que anseia por conhecer o final dessa “viagem”, cotidianamente, interior.

No entanto, minha leitura, poderá não ser a sua; afinal a construção de sentido se dá também pela ativação de nossas memórias individuais de curto e de longo prazos, se me permitem, utilizar essa expressão emprestada da Linguística Textual, e quase canonizada, nos meios acadêmicos, pelo pesquisador holandês T. Van Djik, em seu estudo "Discurso, linguagem e interação"..

Portanto deixo para vocês interpretarem com “olhos livres”, recorrendo agora a uma máxima do modernista Oswald de Andrade, essa pérola da nova Literatura Brasileira, que não passará desapercebida pelo público, identificado com textos criativos e bem construídos, que provocam uma leitura de reflexões, desejos e sentimentos.


 


"Na mitologia grega, Sísifo, filho do rei Éolo, da Tessália, e Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador e primeiro rei de Éfira, depois chamada Corinto, onde governou por diversos anos. Casou-se com Mérope, filha de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte"



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