Dando continuidade ao resgate de alguns textos produzidos, ainda, nos tempos da graduação, hoje irei apresentar para vocês a crônica: "Um assento para dois".
Estavam frente a frente, no estreito corredor do ônibus municipal. O Senhor mais velho disse para o Jovem:
- Por favor Cavalheiro, queira sentar.
- Não, o Senhor chegou primeiro.
Não, o Senhor. Faço questão de que se sente no meu lugar. Afinal, as pessoas não pensam uma nas outras, e acho isso terrível.
- É, o Senhor tem toda razão. Esse é mais um motivo para que o Senhor se sente!
- Meu jovem, disse o Senhor de cabelos grisalhos:
- Você já parou pra pensar na dificuldade de de nossas vidas? Acordar cedo, ônibus lotado...
- Nem quero pensar. A vida anda tão difícil!
- Sabe, meu jovem, disse o Senhor de cabelos grisalhos, em tom paternal:
- Sou de Araraqura. "Êta" cidade boa! Vim pra São Paulo, há uns vinte anos. - Que coragem, disse o jovem, entabulando prosa. Se bem que naqueles tempos, tudo parecia ser mais fácil, né?
- É verdade, maneando a cabeça verticalmente.
A essa altura do trajeto, o interior do ônibus estava irreconhecível. Não havia espaço para mais ninguém, de tanta gente! Foi quando um passageiro mais exaltado gritou:
- Ei Moço! Se não vai sentá, dá licença, que eu tô cansado.
- Eu não vou mas este Senhor vai.
- Eu não, repondeu o Senhor de cabelos grisalhos. É este Moço que vai.
Nesse intervalo de tempo, a confusão se armou.
- Quero sentar, gritou o passageiro exaltado.
- Calma, calma, que o amigo aqui é o dono do assento. Ponderou o Senhor de cabelos grisalhos.
A essa altura do campeonato, a confusão era geral, outros pasasgeiros também começaram a se acotovelar e gritar que queriam sentar.
Vamos fica quietos, falou em voz alta o Motorista e arrematou:
- Quem, afinal das contas, vai sentar?
- Eu não, disse o Jovem. É este Senhor.
- Eu não, é o Cavalheiro.
- Não, é o Senhor, com um tom de certa irritabilidade.
- Está bem, está bem, eu irei sentar. disse o Senhor de cabelos grisalhos, fazendo ar de derrota, acrescentando:
- Não quero que me leve a mal por aceitar sentar. Não quero parecer mal educado.
E antes que pudesse esboçar qualquer atitude, o ôibus parou e todos começaram a descer.
Havia chegado ao ponto final.
Que perda de tempo. O tempo passa...