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TRILOGIA “HISTÓRIAS DE TIO LÔ” - 2. DEU DOIS PASSOS E ATRAVESSOU A ESTRADA

Imagem -ADA-IA
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Este é o segundo relato de uma série de três. Na primeira história, seu João contou que vivenciou a experiência de ver pessoas “brotando “ do chão.

Como bom criador de “causos”, essa história também é recheada de mistérios e de cenas sobrenaturais.

O contexto é o Rio de Janeiro dos anos 1950, quando ainda era a Capital Federal e o presidente recém eleito Getúlio Vargas.

Alguns elementos desse conto são verdadeiros outros fazem parte da criação literária, portanto são ficcionais.

A noite chegava apressada, nos rincões da Estrada das Capoeiras. Mais um dia de muito trabalho chegava ao seu final.

Naqueles tempos, o Rio desfrutava dos bons ares de ser a Capital da República onde a vida cultural e politica eram muito intensas.

Mesmo distante do centro da cidade, é classificado como subúrbio, Campo Grande respirava os aromas litero-musicais que vinham de fora, além dos laranjais, misturando-se ao sabor do “Café Brasil”.

Explico melhor!

O Café Brasil era conhecido por vender rapé, tabaco, chopp, o Frango da Berê... tornando-se ponto de encontro dos músicos da região.

Situava-se ao lado do túnel, em frente à Rua Campo Grande, com a Barcelos Domingos.

Pelos trilhos da Central do Brasil, chegavam os assuntos do momento carregados por transeuntes anônimos que desembarcavam, em parte, na Estação de Campo Grande. Os demais com outros assuntos, também do momento, ou não, seguiam no sentido Santa Cruz, perdendo-se entre olhos sons produzidos pelo atrito das rodas com os trilhos.

Em meio as mesas abarrotadas, garrafas e muita fumaça, causada por incontáveis cigarros, o burburinho deixava, vez ou outra, escapar opiniões sobre o novo Presidente, a vitória do Campusca, o samba mais recente da Mocidade Alegre …

Por detrás do balcão, João Vicente lutava para manter os copos cheios, as garrafas alinhadas nos engradados, e também mantinha a atenção para o fechamento das despesas e as despedidas ao sabor de um café saboroso.

Em uma determinada sexta-feira, que o calendário não quis anotar, a noite avançava rumo a mais uma madrugada de muito trabalho e João encerraria o seu expediente por volta da meia-noite.

Tudo deveria estar em ordem, quando deixasse o seu posto, pois ainda teria de caminhar uma boa distância para chegar ao ponto onde o último ônibus, que o deixaria próximo a sua casa, passaria. Infelizmente, naquele dia, o coletivo se adiantou e João não conseguiu embarcar.

E para completar, naquela semana , sua bicicleta gallo ( marca muito popular nos idos de 1950) não estava com ele, tinha ido para o conserto; caso contrário, era só pedalar que chegaria em casa rapidamente. No entanto, diante das adversidades, que surgiram, o jeito era improvisar uma caminhada.

Iniciou a sua volta, que duraria, aproximadamente, 01 hora a pé. Aproveitou para fazer um balanço da sua jornada laboral. Calculava de cabeça as gorjetas que amealhara, os cafés, os sorrisos, e os rostos dos frequentadores do lugar. Usando essa estratégia, conseguia avaliar o seu dia, sua produtividade e também passava o tempo.

Após 50 minutos, continuava a caminhar confiante de que logo chegaria ao seu destino. Tomaria um banho e caiaria na cama.

A estrada estava um breu. Uma lâmpada ou outra feria timidamemnte a escuridão em meio ao arvoredo que se espraiava nos dois lados da via. Naquele lugar não se enxergava uma viva alma. Grilos e corujas afinavam cada qual os seus instrumentos naturais para aquele "concerto" madrugador.

Chegando em um determinado trecho, já perto de sua casa, João Vicente, viu um ser parado no lado direito da estrada, de perfil.

Ao longe, visulumbrava um vulto de aproximadamente 2 metros de altura. Apertou os olhos para enxergar melhor a imagem que se desenhava na distância, ao mesmo tempo, seus passos diminuíram, acompanhados de um tremor que passou a percorrer todo o seu seu corpo.

O que seria aquilo?

Á medida que conseguiu chegar um pouco mais perto, percebeu em um relance, que o ser havia se virado em sua direção com um sorriso que não era deste mundo. Os olhos afundados nas órbitas brilhavam um vermelho sangue.

João ficou paralisado. Era como se o tempo estivesse suspenso naqueles instantes de verdadeiro terror; momento em que não se ouviam mais os grilos e as corujas. Em uma fração de segundos a criatura atravessou a estrada com apenas dois passos, desaparecendo no meio do matagal.

João retomou seu caminho. Procurava não pensar naquilo que tinha visto.

Ao chegar em sua casa, a água quente do chuveiro convidou-o a relaxar; rezou uma Ave Maria e foi se deitar, preparando-se para a próxima jornada de trabalho.




 
 
 

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