Em conversa recente, com o querido amigo, músico e professor, Vital Mancini, solicitei a ele autorização para a publicação do texto de uma de suas músicas. Fiquei muito agradecido pela oportunidade de compartilhar a letra de Tietê.
A inspiração para a sua criação, segundo relata o próprio autor, surgiu na temática, que as guarânias trazem, sempre com um elemento de fundo , que é o rio. Embora ambientada na Metrópole, que nos é tão querida, e não no meio rural, não deixa de ter um tom nostalgico, como um passeio em um dos velhos barcos, que um dia cruzaram as águas desse rio, conhecido de todos os Paulistanos.
No ano de 2021, no quadro "Entre Amigos", em nosso canal Convergêcias, tive a satisfação de conversar com Vital e conhecer um pouco a respeito da história, que marcou o surgimento dessa pérola da MPB.
Vital Mancini também é integrante fundador do grupo Perímetro Urbano, que tem uma trajetória não comercial de músicas excelentes, que enriquecem o repertório da música popular brasileira, exaltando alguns dos bairros mais tradicionais da Capital Bandeirante como o Ipiranga e a Moóca.
Compartilho, ainda, nesta publicação, um corte da entrevista realizada em agosto de 2021, em que o nosso entrevistado contextualiza os motivos inspiradores de sua canção, além de nos presentear com uma bela interpretação ao vivo de "Tietê", um rio, quase morto, que, no entanto, permanecerá vivo para sempre na memória da cidade de São Paulo.
Espero que apreciem.
Vou descendo pelas águas turvas do Rio Tietê
Vou olhando pra cidade, que o rio invade, pensando em você
Pela noite paulistana a saudade a me levar
Como as luzes da avenida o céu ilumina para eu regressar
Rio tão esquisito, não corre pro mar
Mas se o rio do mar esquece ele adormece junto ao teu olhar
Segue moribundo, chega a entrevar
Mas por você vou com fé, me arrisco a pé sobre a água andar
Venho de Penha de França, vou cruzando a capital
Acho que vai chover forte, quem sabe dou sorte, paro em seu quintal
Tô levando uma prenda que comprei ontem no Braz
Tua foto na carteira, tem pastel de feira, não vai reparar
Rio tá nauseabundo, infestando o ar
Meu amor não se apavora, lá em Pirapora dá pra respirar
O céu carrancudo vem me espreitar
Mas se a noite segue escura, teu olhar procura me enluarar
Tenho que pagar promessa, Santo Antônio do Pari
Entro escrevo o nome dela, acendo uma vela pra depois partir
Acho que chego depressa, nem vou lá na catedral
Mas se tiver contratempo te mando com o vento um cartão postal
O rio vai sumindo para não mais voltar
Pelas ruas vai passando, a cidade olhando finge não notar
Em seu leito escuro não brilha o luar
Como o rio, eu vou sozinho buscar teu carinho pra me serenar
Minha terra sem palmeiras, se calou o sabiá
Não permitas Deus que eu morra, sem ver a garoa nela garoar
Tô voltando pros teus braços, tô querendo namorar
Se romper a madrugada, me espere acordada pra comemorar
Trago no meu bolso pra te conquistar
Um anel de compromisso, to pensando nisso, agente noivar
Eu fiz um pedido para o rio levar
Você pra mim caminhando, olhos marejando, me beijar no altar
Um sonho bonito que vivo a sonhar
Ver a luz do firmamento, fazer um rebento pra gente cuidar
Tem uma quimera que trago no olhar
Juntos os dois a vida inteira até que Deus queira a gente levar
Cortes do programa "Entre Amigos", realizado no ano de 2021.
Um sonho bonito e porquê não, real! 🥰 Quem sabe não há por aí alguém assim, que atravessa a chuva para nos encontrar, que busque nosso carinho para se acalmar. Quem sabe...! 🌻 Que esse amor não se perca no rio, mas se torne vivo enchendo a vida de alguém de riso. 💕