Compartilharei, a partir de hoje, uma série de poemas visuais, que buscam traduzir o ser e estar no mundo, por meio de formas perceptuais em que as cores abrem espaço para o preto e o branco. A forma se traduz em sentidos percebidos pelo olhar do autor que, não- intencionalmente, deixa de sê-lo para passar a voz ao leitor.
Afinal, essa ideia não é algo novo, pois é uma quase-paráfrase do genial filósofo, escritor e pesquisador francês Roland Barthes, que, dentre suas inúmeras propstas reflexivas, sobre a criação textual e literária, nos brinda com a máxima: o nascimento do leitor prescinde da morte do autor.
Metáforas a parte, a ideia proposta em "Silêncio da Alma" não se limita ao despertar de uma consciência, calcada na relilgiosidade redentorista, que rege nossa sociedade e nossa visão de mundo judaico-cristã.
Parábolas, círculos e linhas verticais alinhavam uma construção sígnica, que vai além da percepção geométrica. O preto e o branco, substituindo a vivacidade das cores, primárias ou não, insinuam a vida e a morte (ou a morte e a vida), a ausência ou a somatória de tudo, dependendo do olhar do leitor.
Criado no ano de 2017, "O silêncio da Alma" parece-me, hoje, inspirado, antecipadamente, na tragédia humanitária, que estava por chegar, particularmente, entre os anos de 2020, extendendo-se até 2022 (não que estejamos livres desse luto, que nos soa eterno, dentre as mais de 800.000 almas silenciosas). Pode ser que a mola propulsora para o devir (fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes; devenir, vir a ser) tenha se materializado nessa resignação transformada em arte visual.
Para não ser contraditório, nessa breve nota, espero ter deixado claro que esta não é uma interpretação explicativa monocrática, mas uma das infinitas possibilidades de perceber a si mesmo, não sendo mais "eu", mas o outro, ou os muitos outros, que habitam a nossa frágil existência.
Espero que apreciem.
O universo infinito em possibilidades factuais.. arte factua... o autor refletido nos olhos do leitor num moto contínuo... a arte se completa (ou expande) no olhar/acontecer de quem vê com olhos livres... Muito bem lembrado do signatário Roland Barthes... parabéns pelo conjunto da obra!