Hoje, no espaço ENTRE AMIGOS E AMIGAS, compartilhamos uma crônica muito criativa, que nos chama a atenção pela forma como a narrativa foi organizada, pois nos faz intertextualizar com algumas das ideias do pensador e filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce. Dentre essas ideias, pode-se destacar o conceito do "eu' e "não eu", em que passo a existir a partir da percepção do momento da manifestação fenomenológica de nós mesmos.
A autora, Margot Nogueira, ao nos apresentar como se deu a sua inspiração, para o processo de construção desse texto, nos leva em direção ao pensamento do "Pai da Semiótica". Em sua palavras, nos diz:
Por que escrevi?
Comecei a imaginar que ao passar todos os dias na rua a caminho do ônibus, de repente poderia ter alguém ouvindo eu passar, isso me fez escrever, esperando e no fundo acreditando, que alguém poderia desejar me conhecer, simplesmente pelo fato dos meus passos ouvirem pela rua...
A seguir, o seu texto.
Espero que apreciem.
Todos os dias eu a ouvia passar…
Era praticamente no mesmo horário, quando muito uns dez minutos antes ou depois das sete da manhã.
Parecia apressada, imagino que iria ao encontro de algo ou alguém, penso eu que era o ônibus, deveria estar a caminho do trabalho.
Seus passos miúdos eram apressados e rápidos; de tanto escutá-los sempre, meus ouvidos se acostumaram com o som dos mesmos..
Ficava como que a espreita, esperando para ouvir os seus passos.
Tornou-se um ritual e se não os ouvia, o dia não me parecia completo.
Para meu azar, isso por muitas vezes não acontecia, portanto nem sempre tinha a sorte de capturar esta melodia com meus ouvidos.
Isso me causava uma estranha sensação de vazio.
Mas como pode ser assim se eu nem mesmo a conhecia; só ouvia seus passos!
Contentava-me ao hábito de apenas observar, era meio doido isso, porém já fazia parte de mim, do meu início de dia, ouvir o barulho dos passos dela na minha rua…
Eles ficavam distantes conforme ela se afastava, desapareciam no espaço, até não mais percebê-los, a não ser em minhas mais queridas lembranças.
Amanhã, esperarei por uma nova canção, assim era feito meu cotidiano.
Quem sabe, com alguma sorte, um dia possamos nos conhecer, seremos íntimos; não, era melhor só imaginar quem seria, sentia-me bem somente em ouvir seus passos a ecoar em minha rua, enchendo meus ouvidos, tornando-se como música para mim…
Ela não sabia, mas o som de seus passos tornaram-se parte dos meus dias!
Talvez ela nunca viesse a saber o quão bom isso era para mim.
É melhor assim.
Diadema: 08 de Junho de 2021.
Lindo.. O cotidiano em uma narrativa poética 👏
Incrível como traz vida a uma cena tão cotidiana, os passos viram uma canção capaz de alegrar alguém!!Muito bom!!!
Como sempre...Muito linda sua crônica, Parabéns por compartilhar conosco.
Otima leitura. Consigo imaginar quantos desencontros não acontecem diariamente por pessoas que se acostumam em só ouvirem os passos, as batidas... Vivemos sob a pressão da rotina!
Mais uma prova de que, de alguma forma estamos sempre influenciando alguém e de que sempre estamos sendo observados, é satisfatório quando sabemos que somos boa influência.
Parabéns à autora, por nos lembrar disso.
Pois trouxe de forma poética esse fato
Na tal correria do dia a dia acabamos nos esquecendo de tal.