SEU PEDRO, O BARBEIRO

"SEU PEDRO" (DE PÉ, COM CAMISA AMARELA), HÁ MAIS DE 40 ANOS CORTANDO CABELOS. MUITO COMPETENTE NA SUA PROFISSÃO. FOTO TIRADA EM 05 DE JULHO DE 2013.

---

Quero iniciar essa narrativa fazendo uma pergunta:

- Vocês sabiam que no estado de São Paulo há uma cidade com nome de Óleo?

Eu também não sabia, que existia tal lugar. Localizado próximo à região de Ourinhos, a aproximadamente 300 quilômetros da Capital Paulista.

Soube da existência de tal cidade, quando comecei a frequentar a barbearia do “Seu Pedro”, como era conhecido na região do Km 18, da cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Ele era nascido nessa localidade. E eu me perguntava: quem nasce em Óleo é o quê? Olense, oleado .... Decidi recorrer ao Google e descobri o seguinte:

“Óleo é uma cidade de Estado do São Paulo. Os habitantes se chamam oleenses.

Site oficial do município”

Sempre que a cabeleira excedia, lá ia eu, as vezes saia de longe, para chegar ao salão desse senho muito simpático, de olhar amigo e prestativo. Aparentava uns 70 anos, cabelos lisos e grisalhos, estatura mediana, sempre com um sorriso estampado no rosto. Quando não tinha clientes, abria os eu jornal (ainda havia jornais impressos naquela época), sentado no lugar onde, em algum momento, adiante, seria ocupado por mais um de seus inúmeros e fieis clientes.

Quando chegava a minha vez, sentava-me, na cadeira, aquelas ainda a moda antiga, conversávamos sobre política e, principalmente, a respeito de música. Claro, música raiz, das melhores caipiras, que marcaram época e deixaram saudades.

Não raro, seu Pedro contava as histórias de quando tinha iniciado na profissão de barbeiro; porém, o assunto que mais animava era aquele relacionado com a sua dupla caipira, que se apresentava em programas de auditório, em algum lugar do passado. Certa vez, me disse em tom de confidência, algumas particularidades, que ocorreram no programa da Inezita Barroso, aquela famosa artista e folclorista, que comandou, durante anos, o Programa Viola minha viola, da TV Cultura, pertencente ao Governo do Estado de São Paulo.

As conversas sempre seguiam alegres e quando me dava conta já havia terminado o serviço. Às vezes, para encompridar o papo, pedia a ele para fazer também a barba, com gilete, espuma no rosto e toalha quente!

E tenho de confessar, o homem era bom!

Disse certa vez, que chegou a gravar um disco e que me mostraria, quando possível. Também fiz algumas gravações e deixei como presente em um CD para ele ouvir . Afinal, embora eu tenha nascido na terra do samba e das praias, guardo uma memória afetiva com as coisas da terra e dos ponteados de viola paulista (e que compartilharei neste espaço com o título de “Ponteado Partilhado” ,

espero que apreciem).

Da última vez, que fui a Osasco, notei que o simpático e simples salão do seu Pedro havia desaparecido! Em seu lugar, havia outro comércio, desconhecido para mim. Uma ponta de tristeza se abateu, pois havia alguma coisa estranha com aquela mudança. Recorri a um vizinho do seu Pedro para perguntar e então veio o esclarecimento.

Ele havia falecido com a COVID-19, alguns meses antes.

Assim como eu, acredito que milhares de pessoas, em nosso país, também perderam seus amigos, seus parentes, seus amores... e o pior, acredito que também muitos se sentiram desamparados e ofendidos com as piadas mórbidas do Presidente do Brasil,.

Com seus olhos frios e sombrios, Exala o cheiro da morte, como bem definiu o ativista britânico Stephen Fry, no documentário “Out There”, quando entrevistou o ainda Presidente, nos tempos de parlamentar. (clique no link acima para assistir).

Do meu amigo, ficaram as boas lembranças, as conversas, as músicas guardadas na memória e que irão se eternizar, enquanto eu ainda estiver por aqui.

Um abraço, meu amigo Pedro.

---