Quero apreender a nova história do tempo. Segurá-lo entre as minhas mãos aflitas e desejosas, úmidas de ansiedade e pretenções secretas.
Ouço a melodia das horas, que passam como pensamentos fotográficos. Na meia luz do silêncio, concluo mil planos impossíveis, onde você é só esse estranho objeto do desejo. É o passo secreto (de andar delicado), que ressoa dentro do meu peito de homem.
Meus pêlos roçam sua epiderme perfumada e transparente.
Beijo o seu beijo, na ausência permitida, armadilha quase fatal para os poetas perdidos nas noites frias e distantes.
Construo um outono, neste quase-poema, na verdade, um amor imaginário e carente de tantas coisas! Queria muito que a poesia estancasse a dor!
Mas as sutilezas lexicais destoam na rima, expondo a morte anunciada, pois amanhã não irei me lembrar do entorpecimento de meus sonhos. Quando abrir a janela, você terá partido, (inclusive a minha alma em mil pedaços), e não mais a verei.
Quando abrir a janela, você terá voado para sempre (assim como uma fada) pelos raios de sol, misturando-se na poeira refletida dos móveis da sala; sintaxe de uma gramática qualquer.
Por isso, esse desespero noturno.
Talvez, ainda exista tempo para que saia desse esconderijo inconsciente, revelando a sua face oculta.
A ampulheta imaginária conta os grãos, que descem desesperados pelo espaço vítreo. A areia cobre-se de uma eternidade finita.
A noite não dura para sempre.
CRÔNICA AMARELA
31-01-1992
Passei outro dia pela praça Alexandre de Gusmão para sentir e ver as flores que há muito deixei.
Os prédios continuam lá, vigiando-a como guardiões do tempo.
As ruas, também, com seus automóveis demarcam o mesmo caminho. Preso à retina da memória, esperava encontrar as flores amarelas, esquecidas entre um verso e outro.
Percebi, então, a ausência da poesia, enquanto os olhos buscavam uma nova paisagem. Esta não tinha a mesma alegria, pois os abraços estavam adiados, diluindo-se aos poucos, deixando-se esfriar no asfalto escuro e úmido e envoltos em névoas seculares.
Aos poucos, surgem lugares, diluídos em sons remotos e entrecortados de saudades. Os vultos de uma lembrança descem a Alameda Jaú, em direção à Nove de Julho.
Fico sentado a olhar os bancos vazios, ocupados aqui e acolá pelos donos da noite, que cemeçam a sair de seus esconderijos diurnos.
"Segredos Noturnos". Que nunca os teve? Mas, a poesia nunca há de aplacar a dor, mas, sim fazê-la sangrar até a última gota, pois se há de repetir em mil versos até que os suspiros se percam no infinito. A dor renascerá a cada segredo noturno... Achei lindo! ❤️
muito legal, muito bom! lirismo puro... leva a gente a viagens incríveis, nos transporta no tempo...
Muito belo e romântico! Amei!