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PROCURA-SE UM RETRATO

Hoje, compartilho uma crônica urbana, que sugere uma autorreflexão sobre a cidade e os seus mistérios.

Esse texto remonta um tempo de buscas, em que a vida parecia ter um sentido a ser construído. O mundo era outro, e nós éramos também.


Espero que apreciem.

 

A rua encolhe-se diante da vitrine. Leio um jornal sem título do ano passado, uma poesia sem rima esvai-se dos meus sentimentos. Nas esquinas nuas, vejo mulheres sem alianças nos dedos. Um olhar sem rosto denuncia o desespero das tardes emolduradas de tédio e paixão.

O dia anuncia sua morte lenta. Os edifícios (testemunhas oculares) confirmam a minha suspeita, pois a noite vence a batalha final. O neon deixa as prostitutas destiladas com suas rugas seculares. O mais estranho é o silêncio que não cabe nesse roteiro. É como estar sobre uma duna, esquecida em algum deserto do planeta. A ausência de som é algo descabido neste filme inacabado, fazendo parte do cenário quase pronto, mas imperfeito.

Penso em palavras. Projeto sentimentos, sem emoção. A Folha de São Paulo denuncia: Os Deputados Estaduais vão ter uma ajuda de custo de RS 10.000,00. No entanto, o salário mínimo é menos do que o mínimo para a sobrevivência.

Viro uma esquina, uma próxima cena.

Penso nos versos do poeta e aperto os braços diante do peito para que o frio não congele a minha sinceridade. Agora, a próxima cena ficou para trás. Entro no cinema e vejo um beijo branco na tela.

A noite, vencedora das guerras infindáveis, extravasa a sua aflição diária e eu já não me importo diante do mundo.

Caminho a procura do meu autorretrato nos arredores da cidade.


 

Ouça esse texto em nosso podcast “Convergências “, Episódio 14




 
 
 

2 Comments


Jair Farias
Jair Farias
Aug 03, 2022

Bravo! sempe um pouco do colírio lírico no olhar cotidiano... uma dose de realidade na poesia urbana!

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E vc sempre antenado com a temática. Obrigado meu amigo!!

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