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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

PASSADO



Vejo uma fotografia de um passado recente. Sei que você não está lá. Sinto que não estamos presentes, pois o absurdo absorve o momento.

Um rio corre veloz, afogando violento o amor, que procuro esconder atrás dos meu óculos transparentes, um desespero, que,aos poucos, vai me dominando o presente.

Me faltam palavras para ser mais preciso, a precisão lexical se esvai, onde a morte é vista de um ponto qualquer de referência. Não irei chorar, isso é certo, nem implorar o seu olhar comovido de sedução.

Sinto a presença de sua ausência, que afaga minhas lembranças diante desse jardim florido. Uma rua imaginária se perde em um dia calmo, quando o sol estampa nosso varal de roupas brancas, balançando-se ao sopro de um vento sorrateiro.

Somos sobreviventes de um tempo, que ainda está por chegar, perdidos na quase juventude de um sorriso abstrato e olhar infinito. Caminhamos lado a lado, assim, de mãos separadamente unidas em nossos medos diários.

Há um mistério nesse frenesi do coração que palpita, descompassado, apertando o peito, sôfrego, entre seus seios de mármore. É a partida adiada, que se perde na plataforma vazia, ferida por trilhos paralelos, desgastados e mortos.

É vaga essa impressão de delírios descabidos e ilógicos, desafiando a linha cartesiana da razão absurda! Folheio um livro antigo, sem interpretar seu conteúdo, distanciando-me, assim, do epílogo romanesco.

Você surgiu no terceiro capítulo, sob uma inocência pervertida, em que virar a página é como transbordar a alma pelo avesso. Seria demais sonhador pensar nessas coisas ou não?

Talvez, eu seja um mau leitor, que não consegue chegar à “morte” o autor, para construir os seus próprios sentidos, pois até essa paráfrase, inspirada nas ideias de Barthes, se me parece pobre e mal construída.

É no silêncio dessa intimidade, que a chuva de outono invade o papel, molhando de luto as entrelinhas, escritas de ideias não ditas. Não sei expressar a mim mesmo como partilhar esses pensamentos, pois o deserto se traduz na aridez de todas as histórias (im) possíveis.

Nossas mortes cotidianas a todo instante acenam das esquinas desconhecidas, ferindo os sentimentos sem perguntar o porquê.

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