Um homem caminha pela calçada de pedras irregulares. Chove. Seus passos seculares atravessam lagos e oceanos imaginários. Diante dos olhos, perpetua um sorriso distante e a vontade esboçada em continuar.
Com um gesto, remonta a vida, reintegra-se à paisagem. Na sua torpe existência, balbucia palavras, tornando-as vivas. No limiar de seu horizonte, o desejo, a vontade para chegar ao outro lado do deserto urbano.
Um homem só, misturado aos outdoors, shoppings, news, cars, crisam, blue, tempo, vivasvaias, hamburguers ... O estômago pesa-lhe no ventre ferido e a dor de ser. As cores dos automóveis reavivam-se ad infinitum. Lenta mortalidade de nossos dias, o homem que só é nada.
Transeuntes insvisíveis pisam o seu corpo fragmentado.
Arranhaceus, com suas unhas ponteagudas, arranham o cume do mundo. Este mundo, que estamos destruindo aos poucos.
A chuva molha-se, reconhecendo-se em si mesma. Na tarde apagada um sol ausente. O quadro imóvel da (t)urbanização.
Passos indiferentes caminha.
A fina chuva molha de luto o seu sobretudo.
As palavras jazem estranguladas, nas esquinas da cidade silenciosa.
São Paulo
12/06/1992.
Não sei se estou certa, mas me parece o texto falar de alguém que caminha sozinho, perdido entre a multidão e está invisível para todos. Mill coisas acontecendo, mas ninguém o vê, até ele mesmo deixou de existir em meio ao todo.. Creio que está triste realidade se repete por muitas vezes. 🥀