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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

PALAVRAS SOBRE O CONCRETO


Um homem caminha pela calçada de pedras irregulares. Chove. Seus passos seculares atravessam lagos e oceanos imaginários. Diante dos olhos, perpetua um sorriso distante e a vontade esboçada em continuar.

Com um gesto, remonta a vida, reintegra-se à paisagem. Na sua torpe existência, balbucia palavras, tornando-as vivas. No limiar de seu horizonte, o desejo, a vontade para chegar ao outro lado do deserto urbano.

Um homem só, misturado aos outdoors, shoppings, news, cars, crisam, blue, tempo, vivasvaias, hamburguers ... O estômago pesa-lhe no ventre ferido e a dor de ser. As cores dos automóveis reavivam-se ad infinitum. Lenta mortalidade de nossos dias, o homem que só é nada.

Transeuntes insvisíveis pisam o seu corpo fragmentado.

Arranhaceus, com suas unhas ponteagudas, arranham o cume do mundo. Este mundo, que estamos destruindo aos poucos.

A chuva molha-se, reconhecendo-se em si mesma. Na tarde apagada um sol ausente. O quadro imóvel da (t)urbanização.

Passos indiferentes caminha.

A fina chuva molha de luto o seu sobretudo.

As palavras jazem estranguladas, nas esquinas da cidade silenciosa.


São Paulo

12/06/1992.





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1 Comment


margotnogueira89
margotnogueira89
Aug 30, 2022

Não sei se estou certa, mas me parece o texto falar de alguém que caminha sozinho, perdido entre a multidão e está invisível para todos. Mill coisas acontecendo, mas ninguém o vê, até ele mesmo deixou de existir em meio ao todo.. Creio que está triste realidade se repete por muitas vezes. 🥀

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