Já não me lembro.
Faz tempo, que caminhei por aquelas ruas estreitas, onde casas pequenas, com janelas entreabertas, espreitavam os transeuntes solitários.
O silêncio das tardes se me chegava impermeável, desenhando suposições em desalinho. Em um banco qualquer, ausente de jardins e flores, um livro de Vergílio Ferreira, esquecido, talvez, por algum leitor desatento, jazia, muito distante dos caminhos da Serra da Estrela.
Nesse quadro imperfeito, em que o olhar transverso procurava cenas em desespero, pareço vivenciar " Aparição ", entre a ficção e a realidade literária, como personagem anônimo.
E lá se vão décadas e décadas, em que a desconstrução de sentido permeia as letras mal impressas em páginas amarelecidas , preenchendo, assim, o hiato da nulidade completa.
E cá estou, sonhando encontrar aquela esquina, que guardou o seu último sorriso ao me ver passar.
Hoje, a memória não é mais a mesma memória de antes, pois a saudade abriu uma fenda, que se estende pelo Atlântico, aprofundando-se até chegar às margens da história do passado de antes.
E cá estou, sonhando em reencontrar aquela que foi a esquina, onde os olhares se perderam de nós dois.
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