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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

O SAPO QUE NÃO QUERIA VIRAR GENTE - Conto Infantil

Atualizado: 13 de out.

Saulo César Paulino e Silva




Essa história é uma "viagem" ao universo da infância, de nossas memórias afetivas, em que o tempo se relativiza à medida que revisitamos, sem preconceitos, nossos sonhos no mundo do "faz de contas", que povoa nossa imaginação.

Esse conto deu origem ao projeto pedagógico"Recantando Histórias" que tem por objetivo incentivar a criatividade infantil por meio da música "Havia um tempo, havia", nas escolas de educação infantil. (Clique neste link pra ouvir a música)f

A ilustração deste post é um exemplo de um piloto aplicado em uma escola de educação infantil na cidade de Mogi das Cruzes em São Paulo. O autor do desenho é o aluninho Felipe.


 

Em uma noite qualquer, Pai e Filho conversavam à beira de um lago muito calmo. Águas quietas e com muitos seres viventes a usufruírem daquele paraíso aquático!

Em algum momento dessa conversa, o menino perguntou para o Pai:

- Pai, por que o sapo sempre pula fugindo da gente?

- Essa é uma história, meu filho, que vem de tempos muito distantes, quando ainda se dizia “era uma vez...”.

Contam que pelas bandas de um determinado reino havia uma Princesa, que maltratava, além dos seus súditos, todos aqueles que se aproximavam dela, inclusive os animais.

Era tão má, que sua fama corria por todos os povoados daquele longínquo lugar. Mas um dia essa Princesa recebeu um merecido castigo, feito por uma Bruxa, que vivia em uma floresta nas imediações do castelo.

No entanto, essa Bruxa, ao contrário do que se dizia, era diferente de todas as outras da região. Estava sempre disposta a resolver problemas de qualquer pessoa que precisasse, e uma das formas de ajudar, aqueles que viviam naquele reino, era dando um castigo bem dado para ver ser aquela Princesa má se arrependia do mal que vinha fazendo.

Para que tudo desse certo, a Princesa deveria beijar um sapo na frente de todos os moradores, porém só teria efeito se fosse em dia de lua cheia. Entretanto, ninguém desconfiava que, na verdade, essa tinha sido uma forma que a Bruxa encontrou para tentar fazer o bem para a Princesa.

Como isso era possível? Você poderia se perguntar!

A resposta é bem simples.

Ao beijar o sapo, ele se transformaria em Príncipe, tornando-se, uma pessoa bem próxima da Princesa. Quem sabe, dando tudo certo, o sapo-príncipe poderia se tornar seu melhor amigo, ou ainda, poderia vir a ser seu namorado.

A Princesa Má, nem de longe desconfiava desse segredo. Acreditava que a obrigação de beijar “aquele bicho nojento”, na frente de todo mundo, era uma maneira de ser humilhada e ridicularizada diante de seus servos.

A Bruxa, por seu lado, também não sabia que a Princesa não queria Príncipe nenhum, muito menos um amigo. Lá no fundo do seu coração, o seu maior desejo era continuar a maltratar as pessoas e os bichinhos do reino!

Certa noite, a lua brilhou diferente. Olhando-se para o céu, naquela noite escura, se via um brilho intenso, a luz prateada da lua mostrava que havia chegado o momento em que a Princesa deveria beijar o sapo, afinal era noite de lua cheia!

Sem alternativa, a Princesa foi convidada a ir até o brejo, que rodeava todo o castelo e pegou um sapinho, o menor que encontrou. Colocou-o entre as mãos, fechou os olhos e com cara de nojo foi aproximando os lábios daquele corpinho tímido e trêmulo.

Ao beijá-lo, como que por encanto, houve uma metamorfose. O sapo foi mudando de forma e se transformou em um formoso príncipe. Era o mais belo que já tinha passado por ali.  

Daquele dia, ou melhor, daquela noite em diante, o Príncipe, que já não era mais sapo, passou a morar no castelo com a Princesa Malvada; onde quer que ela fosse lá estava ele, ao seu lado, seguindo os seus passos.

Não demorou para que a Princesa começasse a ficar incomodada com tal companhia, pois não tinha mais liberdade para realizar quaisquer uma de suas malvadezas secretas! Seu coração pulsava ódio e revolta.

Por outro lado, o Príncipe logo conquistou o sentimento do povo do lugar, pois era bondoso e atendia aos pedidos daqueles que mais necessitavam com humanidade e com doçura.

Apesar de querido e ter muitas posses, o belo Príncipe, não era feliz, pois, ao contrário do que pensa o senso comum, não basta a beleza física ou ser rico, para encontrar a felicidade. Andava amuado pelos cantos do castelo, até que um dia resolveu procurar  a Bruxa na floresta.  Andou, andou, até avistar, ao longe, uma cabana construída com velhos troncos de árvores e folhas.

Lá chegando, encontrou a Bruxa remexendo o seu caldeirão, que borbulhava um caldo escuro com cheiro de ervas. Foi recebido com um sorriso e convidado para entrar.

Já no interior da cabana, confessou que não conseguia viver bem como gente, pois não queria dinheiro, beleza, mulheres; queria, sim, voltar para o seu lago e cantar nas madrugadas; e pediu à Bruxa que quebrasse o encanto.

A Bruxa, que não era malvada, lhe disse que quando se passassem 50 primaveras o encanto acabaria e ele voltaria a ser sapo. Mas isso só seria possível se nesse processo a Princesa não fizesse qualquer maldade, caso contrário ela viraria uma rã e ele continuaria a viver como Príncipe, até que a maldade fosse desfeita. Não é preciso contar o que houve!

A Princesa, certo dia, roubou a lua do céu e a escondeu para que ninguém a encontrasse. Toda a aldeia ficou agitada e os moradores se perguntavam: como iremos viver sem a lua?!

A Bruxa ficou muito zangada. Por isso enfeitiçou com uma poção mágica as águas onde a Princesa costumava tomar banho. Sendo assim, quando entrasse na água seria transformada em rã imediatamente. E foi justamente o que aconteceu!

O Príncipe, coitado, que já andava triste, ficou mais triste ainda. Ele não aguentava mais o lamento da rã, que um dia foi princesa, à beira do lago.

Foi em uma noite de insônia, algum tempo depois, que um milagre ocorreu. O Príncipe em mais uma de suas andanças, sozinho pelo castelo, após uma noite de insônia, passou diante de uma porta de madeira muito grossa, que estava fechada e ouviu um gemido bem baixinho.

O que seria?

Parecia que alguém estava chorando de soluçar.

O Príncipe correu de um lado para o outro. Chamou a criadagem para que providenciassem a chave daquela porta! Logo em seguida, lá no final de um corredor, podia-se ver um criado desesperado correndo em direção   ao Príncipe com uma grande chave em uma de suas mãos. Achei, achei!! Gritava o mordomo.

O Pricipe pegou a chave e a torceu na fechadura. Um clique pesado denunciou que a porta se abria. Adentrou cautelosamente, primeiramente com os olhos, e se deparou com uma longa escada que descia, descia, descia para uma escuridão sem fim, que se perdia nas profundezas do castelo.

O nosso sapo, quer dizer, o nosso Príncipe, foi descendo devagarinho, pé ante pé. Quando chegou ao final da escadaria, percebeu que estava entre as masmorras, onde só ladrões, assassinos de todos os tipos eram aprisionados para morrerem.

O choro continuava como um tímido sussurro. O Príncipe ergueu a vela acima de sua cabeça para melhor iluminar o breu que tomava conta do lugar de, finalmente, encontrar que tanto sofria!

De repente, olhou no canto de uma cela, sozinha e acorrentada, estava a Lua. Seu brilho já não existia, e um fiozinho de luz, ainda escorria daquele corpinho frágil e doente.

- O que faz a senhora aqui, perguntou o Príncipe entre o espanto e um misto de piedade!

- Fui deixada aqui para morrer pela Princesa malvada. Ela me disse que nunca mais irei sair daqui.

O Príncipe enternecido de compaixão mandou cortarem as correntes. Ao fazerem isso, uma luz muito brilhante começou a surgir em todo o ambiente. Na verdade, era a luz da Lua que cada vez mais ganhava um brilho intenso; e foi ficando cada vez mais brilhante e, num piscar de olhos, desapareceu.

O Príncipe que estava ao seu lado também desapareceu, ou melhor se foi, coachando feliz para o seu lago do coração. 

Pouca sorte teve a Princesa malvada, pois no momento em que o encanto foi quebrado ela voltou a ser gente. Como estava nadando no meio do lago, ainda como rã, e como gente não sabia nada, morreu afogada.

E lá  no meio da floresta, a Bruxa, que não era malvada, cantava, cantava, feliz, pois a alegria tinha voltado ao Reino, e a Lua também tinha  retornado aos céus, iluminando a vida de todos os habitantes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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