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O HOMEM DA PASTA PRETA



 

Hoje, compartilho uma crônica urbana cujo o título "O homem da pasta preta" retrata fragmentos de um dia comum, de pessoas comuns, inclusive o autor deste texto, lutando pela sobrevivência em suas rotinas cotidianas, submersos em uma correria alucinante para chegarem sabe-se lá onde!

Claro que a narrativa não é um retrato fiel da realidade, pois, se assim o fosse, deixaria de ser arte, e passaria a se constituir como relato histórico. O fato é que, nesse ponto específico, concordo com Ana Cristina César, poeta, e escritora, de grande talento, que tão cedo nos deixou, quando escreveu um de seus inúmeros ensaios, intitulado: "Literatura não é documento".

No entanto, é preciso interpretar essa realidade como inspiração para o mote, acompanhado de sua glosa.

Espero que apreciem.


 

O homem estava ao meu lado.

Vestia uma camisa cinza, calças verdes,

porém os seus sapatos não dava pra ver.

Segurava em uma de suas mãos uma pasta preta,

Que pensei esconder algo.

Conversava com outro homem sobre um tal Juraci.

Em alguns fragmentos, que consegui ouvir, diziam:

- O sujeito andou aprontando umas... Ah esse Juraci!

- Você soube? Ficou devendo pra Deus e o mundo.

- Não fiquei sabendo, respondeu o interlocutor.

A conversa prosseguia animada.

Agora, não falavam mais do caloteiro, Juraci,

conversavam sobre outras coisas, que deixei de prestar atenção.

Olho novamente para o homem e me detenho em sua pasta preta.

O que teria em seu interior?

Um documento importante?

Vários papeis sem importância alguma?

Quem sabe, um segredo de Estado?

Ou talvez, simplesmente, uma marmita,

Aguardando a hora pra ser devorada?!

Presto atenção na próxima plataforma. Visualizo pastas pretas pra todos os lados, indo e vindo em todas as direções, apressadas e anônimas.

Alguns passageiros entram, carregando suas histórias desconhecidas.

Outros saem, levando suas histórias desconhecidas.

De repente, ouço algo familiar:

Mário Quintana, Porta Giratória...

Me apresso pra não perder o fio da meada.

Me vejo recompensado por aquele momento em que me sinto como um pescador,

Que pescou um peixe graúdo!

Nesse interregno, quase perco o meu ponto de descida, ou melhor, a estação onde deveria

Desembarcar.

Eu desço.

Permaneço entre o hiato e os dígrafos

Inexistentes.

O trem parte.

Sobre os trilhos paralelos,

Carrega os fragmentos de um diálogo interrompido

A respeito de um de meus autores prediletos.


 

 
 
 

4 comentários


José Wildzeiss
José Wildzeiss
10 de ago. de 2022

Ótima crônica, pescador sortudo!

Viva Mário Quintana!

Cada um que ponha o que quiser na pasta preta.

Viva a arte!

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Saulo César Paulino e Silva
Saulo César Paulino e Silva
10 de ago. de 2022
Respondendo a

Sabias e provocativas palavras. Obrigado pela visita, meu Amigo, autor de “Fenda”!!

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margotnogueira89
margotnogueira89
10 de ago. de 2022

Amei a crônica, tão real e viva! Me fez pensar que também faço isso,me deixo levar pela imaginação e vou criando mundos dentro de mundos e vida dentro de vidas.

A pasta preta pode ter tudo ou nada! 😃

E o melhor, fui ler Mário Quintana...! 💟

Me deliciar com poemas para alimentar minha alma e me fazer crescer, amar, buscar, viver.. Obrigada. 🥰

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Saulo César Paulino e Silva
Saulo César Paulino e Silva
10 de ago. de 2022
Respondendo a

Ainda podemos imaginar, criar, viver além da fotografia 3x4 ( relembrando um dos temas de Belchior)! Obrigado pelo comentário.

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