Compartilho, no dia de hoje, dois textos, escritos, ainda, quando acreditava que encontraria um sorriso desconhecido em alguma esquina da cidade concretada em sua indiferença e isso me acalmaria o espírito. O primeiro é apresentado sob o título de “O desconhecido”; e o segundo “Monólogo das almas”.
Mal sabia, eu, naquele momento, que aquela falta de humanidade, que tanto incomodava meu olhar de juventude, se comparada aos dias de hoje, soaria como uma espécie de prenúncio de um mundo absurdo, que estaria por chegar, e chegou! Eivado de ódio e liderado pelo Capitão da Morte, que hereticamente evoca um não-messias!
Naqueles anos, buscava, na leitura dos textos de Álvaro Alves de Faria, alento para as feridas da alma, que recriava em sua obra literária o cotidiano com seu olhar de poeta, e a criticidade jornalística. Desvelava barcos de papel, naufragados às margens do Lago do Ibirapuera, confundindo-se com a sua angústia e desesperança no outro.
Em uma de suas obras primas (pelo menos para mim), “A noiva da avenida Brasil”, pude me reencontrar, percebendo que o meu olhar existencial não era tão solitário, quanto parecia.
Esses dois textos foram, de certa forma, influenciados por sua temática fenomenológica/realista, que contribuiu para o enriquecimento da minha concepção de mundo e da própria vida.
Espero que apreciem.
O DESCONHECIDO
Passos
Indiferente
Um homem caminha.
Atravessa
Lagos
Oceanos
A chuva
Molha de luto
O seu sobretudo.
MONÓLOGO DAS ALMAS
Arcos
Que se encontram
No lugar comum
Imobilizados
No tempo
Infinitos
A percorrerem
Os espaços
De seus próprios vazios.
(Poema inspirado nos arcos do Pátio da Cruz da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Às vezes você se sente assim, anda e seus passos não te levam a lugar nenhum... És como um nada...