Olhar, ver e não ver!
A realidade nem sempre é aquela que imaginamos, podendo nos levar a uma espécie de silogismo, desaguando em falácias traiçoeiras, ou não.
No entanto, nada disso nos passa percebido intencionalmente, quando, quiçá, estejamos diante de um espelho, que reflete nossa não-imagem. É o não-eu, traduzido em uma semelhança, amparada na contiguidade desértica, entre o significado e o significante.
Fiz essa breve introdução, para contar algumas passagens de minha infância.
Intuitivamente, quando criança, ficava à deriva em minhas inocentes reflexões, quando, confrontava dois espelhos, que se autorefeletiam, criando, assim, um "infinitum" de reproduções, que se perdiam e se diluiam até desaparecerem.
Diante desse reflexo, ficava eu, com minha mente criativa, imaginando o que cada imagem refletida poderia significar. Algumas vezes, parecia portas infinitas, e lá vinha a curiosidade sugerindo: o que teria, ou quem estaria, por detrás de cada uma daquelas portas?
Outras vezes, parecia um trem gigantesco, com seus infindáveis vagões, a se perderem em perspectiva.
No afã de obter respostas, pensava como poderia construir uma máquina, que ficaria instalada entre esses dois espelhos, onde eu me acomodaria. E, por meio de um processo de desmaterialização, teria a possibilidade de entrar naquele “túnel” do tempo, assim como era retratado no famoso seriado de TV, norte-americano, produzido no ano de 1966, chegando ao Brasil, por volta dos anos 1970.
Talvez, venha daí minha predileção pelo gênero ficção científica, seja na literatura, com Assimov, em "Poeira de Estrelas", por exemplo, ou no cinema, com filmes do tipo “ Cargo, o espaço é gelado”!
Assim, eram os dias de uma infância regada à solidão de um apartamento, cuja companhia eram os próprios pensamentos, ou a TV em preto e branco, como a extinta Excelsior, que oferecia "enlatados" estrangeiros em forma de entretenimento. No entanto, hoje, no caminhar para a terceira idade, percebo que vivia naquelas "viagens" imaginárias uma preparação para a própria vida. Sem saber, exercícia pura filosofia, filtrada pela inocência do olhar e da imaginação de criança.
Lendo seu texto, lembrei daqueles espelhos que nos fazia mudar de forma, ora magro, ora alto, ora gordo... E quando você mencionou o seriado, lembrei de um que gostava muito "Jornada nas Estrelas", queria me tele transportar como eles... Nossa mente nos prega peças, mas como você mesmo disse, nos leva para espaços que talvez nunca venhamos a conhecer, mas que de certa forma os vivemos, pois onde não podemos chegar, nossa imaginação nos leva e como você mencionou em seu texto, ela te preparou para ser hoje o que és, alguém que nos faz lembrar o que fomos e no que nos tornamos
O eu invertido no infinito... um espelho refletindo outro... o multiverso incontido da imagem da nossa imaginação... Grande Saulo, o professor que além de refletir, nos faz pensar...