Nesta postagem, compartilho mais um texto do querido amigo, poeta e jornalista Jair Farias.
Esse espaço "Entre amigos" existe para criar interação entre aqueles que amam a palavra como instrumento de realização e transformação.
Tristeza pueril
Sob os últimos sois da primavera, desfilo meus olhos encharcados nas ruas de São Paulo...
Passo por pessoas cinzas, de sorrisos empedernidos, escondidos nas máscaras epidêmicas da hipocrisia e por onde passo, passam, sob árvores mortas que negam seus farfalhar ao vento e não me deixam ouvir suas cantilenas suaves
Caminho pelos passeios de concretos, decorados com merda de cachorro numa trilha de um tenebroso bosque de pedra, às 10h, numa quente manhã de domingo
Como cúmplices dos meus sofrimentos, experimento a dor das pessoas que me fuzilam com suas angústias disfarçadas nos seus cinismos e nas suas compaixões
Tudo é triste, a vida, a morte, a vastidão da saudade, o escancarado cristão que vai às missas dominicais para se redimir das suas atrocidades e depois cospe na cara dos miseráveis espalhados pelas sarjetas que mesquinham amor
Quando uma salsa ardente virá para me purificar e mandar meus pecados de volta a Deus?
(Nas portas do paraíso minhas lágrimas não são tão salgadas, não decoram minha face e já não choram mais… é pura estupidez)
É tudo mecânico e podre, pesado e podre, morto e podre e ninguém vem me salvar, ninguém vem resgatar a tibieza que ficou na minha inocente infância, perdida no século passado
Vá às favas esse tempo estático, congelado que não deixa minhas feridas se cicatrizarem, que o senhor da morte venha com sua segadeira e ampute essa teimosa rotina plantada em faina nesta selva paulista...
Tudo é cinza, os prédios, a fumaça, a desgraça... tudo é cinza e nem esse sol dourado que em breve irá se esconder é capaz de colorir...
Quero a redenção, preciso amar e despejar minhas paixões no mundo, para de novo sorrir e assim que o verão chegar, vou poder brincar, correr sem ter pressa, simplesmente correr.
Mais um belo texto de um escritor talentoso!