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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

ELES CHEGAM



 

O hiato temporal sempre foi algo que instigou os meus insitintos mais profundos, levando-me, por vezes, a um estado de perplexidade, que se mistura com inconformismo, angústia e solidão. Nesse interregno provocado, existiria, talvez, uma espécie de suspensão cronológica, em que o presente ficaria momentaneamente "ausente", penso eu, criando-se assim uma zona transitória, que não é presente, passado ou futuro.

Se a arte provoca a libertação do ser, meu compromisso, aqui, com essas divagações, não é provar ou teorizar nada; apenas expressar o sentimento, que se distancia da lógica formal para se aventurar na "matrix", onde estamos aprisionados, ou não. Tão pouco, tenho a pretensão de me aventurar pela teoria das cordas, e quem sabe, descobrir, a partir de uma visão conspiratória, a abertura dos "buracos de minhoca", que nos levariam para outras dimensões, segundo os especialistas da física quântica.

Inspirado, intuitivamente, também, nessa direção, que escrevi, há algum tempo, "Eles chegam", que apresenta uma construção literária, com base sociológica e histórica.

Essa construção teve como mote a morte cruel de alguns trabalhadores rurais, ligados ao MST, no estado do Paraná. A covardia desse assassinato me entristeceu muito, como, aliás, outros tantos nos incomodam todos os dias, nessa terra de bandoleiros, onde a lei, esta sim, é quase ficcão! A cena me veio como se lá estivesse. Pude sentir, a brisa da noite. O silêncio que ocultava o prenúncio da aproximação dos algozes.

Meu peito se apertou quando fixei meu olhos nas armas apontadas para aqueles que estavam apenas cuidando de seus sonhos, arando a terra e a vida, que nos são tão caras.

E de repente, o som, o disparo!

Outro silêncio estende-se. Agora, permeado pelo cheiro da morte, que exala dos matadores em fuga.

O percurso entre a saída do projétil dos canos das armas, e a dilaceração dos corpos, é a motivação das entrelinhas do texto. Ou seja, é nesse hiato, onde o vácuo denuncia a tragédia, sem sê-la ainda, que resultará no desaparecimento eterno dos sonhos, dos sorrisos e das lágrimas.

Talvez, para muitos, essa ideia não faça muito sentido. Mas me atenho aos versos do poeta baiano, que "caetana" por este país, há tempos, em uma de suas máximas, quando profetiza:


"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".


 

A propósito dessa percepção de suspensão temporal, gostaria de deixar indicado um filme interessante, cujo título em português é "Fenda no Tempo"para aqueles que se interessam pelo tema.

Se a ficção não resolve os problemas sociais, principalmente, aqueles mais violentos, ao menos contribui para entendermos alguns de seus aspectos mais imediatos.




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1 comentario


margotnogueira89
margotnogueira89
17 ago 2022

Tão triste, mas, infelizmente tão real... 😢 Haverá sempre para aquele que quer fazer algo de bom para alguém, uma armadilha pronta, à sua espera.

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