Você olha para o outro lado, onde estão as roupas repousadas sobre as costas da cadeira cúmplice. É a mesma cena de séculos atrás! Há quanto tempo se observa no espelho e se dá conta de que as marcas se mostram, sensíveis, sobre a pele? Talvez, não antes deste poema, banhado em sentimentos e angústias.
O relógio pontua as horas, de um dia vencido pelos caminhos da memória, fingindo que são as mesmas do ano que se passou. É inútil buscar nas entrelinhas dos dedos trêmulos de emoção e sensibilidade, as vontades expostas, que se ausentam em suas próprias fendas, profundas e escuras.
As paredes permanecem inertes e desoladas sob um sol imaginário, que calcina o coração abstraído em suas metafóricas vivências. Elas não sinalizam qualquer resposta, apenas atenuam a distância esquecida no calendário gregoriano, que tenta em vão marcar as eras e as distâncias.
A janela rege um desconcerto, apresentando uma gramática própria em que a sintaxe do quarto revela a baixa luminosidade, inibindo lençóis revirados sobre sussurros noturnos em silêncio quase-absoluto.
Imagens, cúmplices de histórias particularizadas em suas entranhas, trazem a nu as fotografias curvilíneas, de corpos, que jazem inertes sobre a madeira rústica do prazer. Os cheiros entre os desejos ardentes deixaram transparecer lábios úmidos como papel molhado, revestidos de felicidade fugaz, em que a poesia repousa e parte como cigana alada das terras distantes.
O sentimento agora é outro, transverso como o corte de uma espada, ferindo a alma e corroendo a solidão profana. Pensar é como amar nesse oceano intransponível de ansiedades, de partidas e chegadas em portos imaginários, que povoam nossa existência passageira.
Ouça esse texto em nosso podcast “ Convergências”. EP -11
Compartilho a sensível interpretação desse texto pelo amigo Duda Jardim, com publicação em seu canal “Musicando”!
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