Neste post, apresento textos de amigos e amigas, que fizeram ( e ainda fazem ) parte desse estradar artístico, se me permite Elomar Figueira Melo, o empréstimo de uma de suas pérolas trovadorescas, presente em uma de suas obras primas.
Ao surgir a ideia, fiz imediatamente, por rede social, o convite para esses amigos e agora começo a publicar os seus textos. Alguns foram indicados pelos próprios autores, outros, foram coletados por mim, em anotações e guardados.
Hoje, apresento o autor: Aurélio Augusto. Anteriormente, tivemos os autores Eliçon Mendonça e Jair Farias.
Essa revivência trás à memória dias de sonhos, vontades compartilhadas, sorrisos eternizados no tempo, em que o abraço era transmissor de esperança e humanidade, infelizmente, hoje, sentimos que o horror da pandemia não tem nos inspirado a abraçar.
Observo que todos os textos estarão organizados em posts subsequentes. Sendo assim, à medida que for recebendo os textos, irei atualizando-os sobre este projeto.
É esse resgate que intenciono partilhar.
Gostaria de convidar os amigos e amigas leitor@s para opinarem e ajudarem na divulgação deste espaço.
Obrigado.
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AURÉLIO AUGUSTO
Fico muito feliz em poder apresentar o amigo querido Aurélio Augusto (que conheci como Léo) de tantas conversas e projetos. Isso se iniciou no final dos anos de 1970 e, início dos anos de 1980. Em sua veia poética, predomina uma "eu lírico" sem, contudo, deixar de expressar um olhar crítico diante da perseguição secular contra o povo negro. Tive o prazer de prefaciar uma de suas obras poéticas "Uma voz ao vento", que traz a temática existencial de ser humano e de vivermos em um mundo à beira do colapso. E aqui estamos de volta, para nos confraternizarmos nessa estrada de áreas distantes e eternas.
Compartilho, abaixo, o seu texto mais recente.
RESSURREIÇÃO DO PERTENCIMENTO HUMANO
O tempo revela nossa saga como se fosse um fotógrafo, muitas fotos já amareladas referenciam o amadurecimento da nossa mente, sem conceituá-la como inservível, mas sim como um instrumento que nos protege de nós mesmos. O homem é a palavra que escuta a razão e a corrompe ao se encantar com o falecimento em si dos sentimentos nobres. Não devemos nos enforcar com os laços históricos dos nossos sofrimentos através da ancestralidade ou de agora. Unirmos aos quilombos é o caminho para desatar todos os nós do fio da história, libertando corações e mentes. Imprescindível é entendermos de onde viemos, para desativar as novas armadilhas de Porongos. Hoje forças táticas armadas invadem o sono nas comunidades acima e abaixo dos morros dos desabamentos previsíveis. Sem diálogo, alimentam a guerra onde se disputa o controle dos corpos mamíferos racionais com a morte. Porque não dialogar com o universo, a natureza é sua porta voz. Sim, ela é poliglota e só os loucos entendem seus idiomas de paz. Sabem que os corpos dos animais mortos fertilizam o solo, que se esbanjam em um banquete degustando músculos e carnes putrefatas, nos devolvendo com ajuda de sementes e chuvas, os frutos e vegetais. Perfeita, descarta a justificativa de encurtar a viagem das flores da espécie Marielles até a estação primavera, onde semeariam no inconsciente coletivo, o sêmen do direito de serem livres e iguais. A canção do rei dizia que todos estão surdos. É verdade nós não ouvimos o estalar dos ossos do pescoço de George, reprise do som macabro como o que levou o irmão Bernardo, sem rolar papo. Era só um joelho fardado, milionário estrangulando e tirando a graça de uma anedota declarada universal. Agora dá pra ouvir a marcha fúnebre tocada pela banda desafina - da das injustiças. A melodia que não é do Luiz, soa como um convite para o enterro de uma cidade em um abismo profundo ou sem fundo. Absurdo, apagaram a lua e nem tem mais luz do azeite de lambari. Na escuridão só sobraram milhares de pirilampos, para iluminarem a ressurreição da essência do pertencimento humano.
Originalmente este artigo foi publicado na Revista Pixé, Número 21 Especial, Ano 2, Dezembro de 2020. (Páginas. 8-9). Para baixar a Revista, clique no link a seguir.
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ELIÇON MENDONÇA
Conheci Eliçon nos idos de 1980, por meio de outro amigo e irmão de alma , Isaias Mozzart de Carvalho, (como diz outro querido Adriano Adiala), falecido há alguns anos. Tivemos o prazer de compartilhar muitas ideias, inclusive naquele momento de nossas vidas fui ao seu casamento na cidade de Rio Bonito, no Estado de minha terra natal, Rio de Janeiro.
Foram muitos poemas lidos e relidos, ao longo de todos esses anos.
Durante vários anos nos "perdemos" nos caminhos e, mais recentemente, com as facilidades das redes sociais retomamos a caminhada.
(Sem Título - o texto faz parte de sua obra inédia: "Currículo da Vida", que tive o prazer de contribuir em sua revisão).
Diante a esse infinito
horizonte.
à minha inconstante
vida,
a esse misterioso
mundo:
Refaço o meu eu,
Perco e reencontro a minha
esperança!
Reinvento os meus
passos,
Reconheço, enfim,
a minha
insignificância...
Diante a tantos
fracassos
Só os meus
versos escritos
Parece-me com real
sentido:
- Que sou como
um barco frágil,
De bússolas
desorientadas,
Sem esperança
de porto,
Sem abrigo!
Preciso,
de agora em diante,
buscar forças
(não sei de onde?)
Pra refazer
a minha vida
e reencontrar
outros amores!
Seguir
realmente
em frente,
Parar de olhar
pra trás!
Afinal,
não posso
reencontrar
A minha felicidade,
infelizmente,
onde já
não existe mais!
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JAIR FARIAS
Ao falar de meu amigo e camarada Jair, não tem como não relembrar de nossas atuações no Centro Acadêmico Clarice Lispector, do curso de Letras da PUC de São Paulo. Cursamos o Bacharelado nessa universidade e tivemos grandes oportunidades literárias naquele momento. Foram anos muito produtivos, quando organizamos o I e II Concurso de Poesia Brasil-Portugal, que nos abriu inúmeras perspectivas, além dos copos virados, noite a dentro, enquanto discutíamos arte engajada e arte visual concreta. Além das oportunidades acadêmicas, fui seu "padrinho" de casamento, no civil, o que me deixou muito feliz pelo convite. Também nos distanciamos um tempo e depois retomamos o contato, por meio das redes sociais, mais recentemente.
(Sem título) - Tive o honra de fazer a apresentação da obra "Contos de Sören". Romance de grande espectro narrativo ficcional que, posteriormente, apresentarei no Páginas Literárias.
O silêncio
Na lua cheia
Que enche o mundo
Com seu esplendor...
Ofusca as perdidas
E esquecidas
Estrelas
Que decoram
Seu redor...
Esse silêncio
Iluminado e obscuro
Esconde a beleza do mar
E faz da areia diamante
Um motivo
Picante
Para conjugar
O verbo amar
E a lua cheia
Repleta de silêncio
Não se deixa
Incomodar
Nem com os
Tombos das ondas
Nem com os
Movimentos
Do mar
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O Silêncio sempre traz algo que as Palavras não conseguem decifrar.
É poesia!
Amei! 💟
Lindo esse poema do Eliçom: Onde encontrar forças...? "A minha felicidade, infelizmente, onde já não existe mais!" Versos tristes, tocantes, reais. 🌻