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Foto do escritorSaulo César Paulino e Silva

"CAUSOS" DE MINHA AVÓ - Carlos Eduardo de Souza



 

Hoje, compartilhamos mais um texto do professor e historiador, especialista no estudo sobre desenvolvimento do maior bairro do Brasil, Campo Grande (RJ), Carlos Eduardo de Souza. O interessante dessa publicação é sua intertextualidade com a cultura da parcela mais simples, da sociedade, em que a tradição oral marca sua importância no imaginário coletivo.

"Causos" de minha avó é um retorno à narrativa popular em que personagens como Lobisomem, Saci-Pererê, Mula sem Cabeça, entre tantas outras, surgem para povoar a imaginação do universo infantil. Esses "Causos" causam (com perdão da redundância) medo, ansidedade, despertando a curiosidade e a saudade de tempos idos, de uma humanidade latente, que tanto faz falta atualmente. Isso pode ser percebidos no seguinte trecho:


Ah, que saudade de sentar e ouvir minha saudosa avó Julia contar seus "causos "! Mesmo assustadores, aqueles contos me atraiam como um ímã, me despertando, ao mesmo tempo, medo e fascínio.


No entanto, deixo para que você, leitor,/leitora explore com a sua subjetividade a criatividade literária, que exala do excelente texto construído pelo professor Carlos.


Espero que apreciem.


 

Ah, que saudade de sentar e ouvir minha saudosa avó Julia contar seus "causos "! Mesmo assustadores, aqueles contos me atraiam como um ímã, me despertando, ao mesmo tempo, medo e fascínio.

Adorava ouvir aquelas histórias que, sendo verdade ou não, me introduziam para um cenário bem real, principalmente porque a narração de minha avó materna era de um roteiro impecável.

E as histórias eram diversificadas. Tinham as tradicionais sobre Lobisomem, em suas noites de lua cheia; as de Mula sem cabeça, a famosa "mulher do padre"; o Saci-pererê, que me contavam (não só minha avó) que assoviava e perturbava os cavalos; entre outros relevantes personagens que permeavam o imaginário (ou realidade) dos "mais antigos ". Tinha até um ser que minha avó chamava de "Mão Pelada", o qual ela falava que ocasionalmente visitava nosso quintal, que só mais tarde soube que era um animal de verdade (mas nunca soube se ele realmente algum dia esteve em nossa casa).

Entre tantos "causos", lembro-me até hoje de um específico. Minha avó relatou mais ou menos assim:

"Numa certa noite, eu e um amigo vínhamos caminhando por um campo aberto, sem ninguém, com poucas casas e iluminação, voltando para casa. Entre uma conversa e outra, avistamos um homem parado perto de uma ponte onde passaríamos. Era um homem bem alto, sem movimentos, muito estranho. Pensamos em voltar, mas não havia outro caminho, e até porque era apenas um homem. Pois então, fomos ao encontro do tal ser, tentando evitar olhá-lo. Quando passamos por ele, ao darmos 'Boa noite', cometemos o erro de olharmos para ele. E... surpresa! A parte de cima dele estava coberta por uma espécie de névoa. Não dava pra ver a cabeça do homem! Corremos tanto que chegamos à casa mais rápido do que o esperado. É... meu filho, a noite tem muitos mistérios, é quando os 'bichos' ficam soltos."

Pronto! Ali era um misto de medo e satisfação por ouvir mais uma história de assombração. E pra dormir depois? Só Deus na causa (ou no "causo"). Mas quem diz que no outro dia não estaria ali de novo pra ouvir (e me assustar) com mais um conto?

E até hoje não duvido de todas essas histórias. E é essa que é a graça: o infinito imaginário, sem certeza, cem por cento de nada. A inocência da dúvida.

Como diria Zé Ramalho: "Mistérios da meia-noite que voam longe, que você nunca não sabe nunca..."


 

Quem é Carlos Eduardo de Souza? (Por ele mesmo)


Carlos Eduardo de Souza. Formado em geografia pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Professor da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro. Professor representante do Ginásio Carioca Castro Rebello nas Olimpíadas brasileira de astronomia. Autor dos livros "A evolução econômica e populacional de Campo Grande " , "A criação de um subcentro em Campo Grande ", "A lenda do Vulcão do Mendanha ", "Como uma concha no mar ", da fanzine "Memórias do Campusca ", e co-autor do livro "Contos e crônicas ". Autor do artigo "Campo Grande, Rio de Janeiro: do Rural ao urbano", lançado no livro "Reflexões em desenvolvimento territorial ", com outros autores. Possui um blog denominado " Memórias de Campo Grande ". É também um numismático (colecionador de notas, moedas e afins).


Para conhecer um pouco mais a respeito do trabalho desenvolvido pelo professor Carlos convido-os para assitirem sua participação em nosso programa "Entre Amigos", em no canal Convergências, realizada no dia 01 de dezembro de 2023.


Se você ainda não é inscrito em nosso canal, fica o convite.






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