Hoje, o Páginas Literárias apresenta um texto reflexivo de Angelo Asson. Profundo em sua análise, além do mero literário, adentra ao realismo do momento político do país.
Um questionamento se nos apresenta implícito:
Civilização ou barbárie?
A resposta também está no texto e eu a deixo para os leitores interpretarem.
Espero que apreciem!
O Brasil é, em teoria, um estado laico, o que significa dizer que não apoia e nem se opõe a nenhuma religião. É o correto e o que diz a Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a todos o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Portanto, todo governante que respeita as leis tem a obrigação civil e moral de governar para todos, sem distinção de credo ou de qualquer outra escolha feita pelos cidadãos.
Eu também não tenho religião já faz um bom tempo, mas acredito – à minha maneira –, em um Deus, independente de qualquer organização criada pelo homem. Ao longo da história, muitos líderes religiosos fraquejaram e acabaram lambuzando as mãos na lama suja da corrupção ou dos dízimos, aproveitando-se da ingenuidade dos fiéis ou da proveitosa aliança com governos. Para mim, basta a minha crença pessoal e os meus princípios de respeito ao próximo.
Tampouco tenho partido político ou levanto bandeira para candidato algum com a mesma fé cega de quem aceita sermões, sem a coragem de se questionar sobre a verdadeira intenção de certos discursos. Simplesmente aceitam as palavras como sendo verdades absolutas e inquestionáveis, deixando que terceiros lhes digam o que devem fazer de suas vidas, quando ela deveria estar em suas mãos. Neste momento é preciso tomar uma decisão extremamente séria e assertiva: decidir qual o melhor rumo para o futuro do nosso país e dos nossos filhos.
De um lado, temos um candidato que, sem a menor postura de presidente de uma nação, insiste em chamar o seu oponente de “ex-presidiário”, demonstrando mais um de seus inúmeros preconceitos. Um candidato que jamais daria uma segunda chance para um miserável que tivesse ido parar na cadeia por roubar um frango para dar de comer para seus filhos, já que uma grande parte da população está passando fome! O “vale-voto” de R$ 600,00 – que terminará após as eleições – não é suficiente para o alimento e para o gás. Que dirá para o aluguel, uma medicação, um curso ou uma diversão. Como se referir, então, a um elemento que deixou centenas de milhares de pessoas morrerem por descaso ou incompetência?
Do outro lado, temos, não um candidato, mas uma coligação que pretende salvar o Brasil de um futuro sombrio. Quem se dá ao trabalho de estudar a história do Brasil sabe que, de 1964 a 1985, o país esteve mergulhado numa ditadura militar. Foram vinte e um anos sem direito à liberdade de se expressar sob qualquer aspecto. Hoje, ainda podemos nos manifestar, optar por nossas crenças religiosas, opções sexuais e escolher quem irá nos representar na esfera política.
E o que faremos com toda essa liberdade? Vamos optar pelas armas – que, nos EUA, são responsáveis por milhares de mortes evitáveis todos os anos – ou pelos livros? Não precisamos seguir o exemplo de países financiados pela indústria armamentista, o Brasil necessita é de educação! E até onde eu sei, Jesus não usava armas, não tinha preconceitos e era capaz de perdoar. Ele convencia pelo amor, não pelo ódio. E então, vamos optar pela destruição ou pela preservação? Pelo preconceito ou pelo respeito? Pela mentira ou pela verdade? Pelos evangelizadores ou pelos indígenas? A ingenuidade custou muito caro aos povos nativos e, atualmente, o pouco que lhes resta corre o risco de ser subtraído ainda mais.
Você que acredita no “vale-voto”, saiba que, se você tiver um filho homossexual, ou se for preto, ou de outro partido, ele terá muitas dificuldades para ser aceito num país que prega uma tal de “família brasileira”, onde não há espaço para as diferenças. Um modelo de família como aquela que adquiriu mais de 50 imóveis em dinheiro vivo! A propósito, quantas casas você já comprou com dinheiro vivo? Talvez um barraco na favela, ou uma casinha de sapé.
Durante a pandemia, sob o slogan “Deus acima de tudo”, o que vimos foram centenas de milhares de “Seres humanos debaixo da terra”, menosprezados que foram por este mesmo candidato, ao qual poderíamos chamar de “futuro presidiário”, pela infinidade de crimes cometidos ao longo de todo o seu mandato e, principalmente agora, na reta final da campanha presidencial, literalmente passando com as rodas da sua motocicleta por cima da constituição brasileira (sem capacete, é claro, numa afronta ao Código Nacional de Trânsito, que deveria ser respeitado, a começar, por alguém que ocupa a cadeira do Presidente do Brasil). Qualquer pai ou mãe sabe que o exemplo é a melhor maneira de educar os filhos. Os maus exemplos civis acabam por influenciar milhares de cidadãos, que acabam por agir da mesma forma.
Você, que na eleição passada se deixou levar pelo novo, pela mudança, pelo anti-comunismo, já está sentindo na pele que a sua “boa intenção” foi um equívoco. Seu poder de compra diminuiu; a Amazônia está sendo devastada; mineradores estão invadindo áreas demarcadas, contaminando rios e assassinando indígenas e seus protetores; órgãos fiscalizadores estão sendo desmantelados; a cultura e a educação são desprezadas; as leis ignoradas, a imprensa atacada, mentiras compartilhadas. Você certamente já se deu conta de que não existem falsos messias ou salvadores da pátria. É hora de desfazer o engano.
Para finalizar, reitero a minha posição de ser um eleitor sem “rabo preso”. Não tenho partido e nem sou torcedor fanático de político algum. Por isso, após as eleições, passo da condição de eleitor para a de cobrador. Não é porque votei em A ou B que aceitarei ou farei vistas grossas – ou cegas – aos males que porventura o meu candidato venha a causar. E muito menos me deixarei ser conduzido feito uma ovelha obediente. Todo político é funcionário do povo, e deve trabalhar pelo bem de TODOS, e não apenas para o seu rebanho, feito um pastor montanhês.
Quero um país digno, se não para mim, para meus filhos. Um país do qual eles possam se orgulhar e se expressar livremente, para que tenham a segurança de sair nas ruas sabendo que os demais cidadãos terão que resolver suas rusgas não com armas, mas com diálogo cordial e argumentos. Quero um país que preserve o seu passado e as suas riquezas naturais; que respeite todos os seus cidadãos, inclusive os povos que aqui viviam antes de tudo isso virar Brasil; um país que respeite seu habitat e seus costumes. Quero um projeto de futuro, onde a educação seja o pilar principal para que nossos filhos possam brilhar, ao invés de se perderem por falta de oportunidades.
Por tudo isso, meu voto vai para a coligação que pretende evitar que se consolide este projeto de poder que, se instalado, continuará infringindo as leis, fomentando a discórdia e teimando em impor as suas ideologias ultrapassadas, que não respeitam a individualidade de cada um. Não somos obrigados a ser iguais a eles, não precisamos ser iguais a eles e, definitivamente, não precisamos deles! Meu voto vai para o Brasil e para todos os brasileiros, vai para Luiz Inácio e para todos os que se uniram a ele para transformar o Brasil num país mais digno para todos. Porque sou brasileiro acima de tudo!
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