Compartilho com os amig@s leitores e leitoras, uma crônica infantil, que escrevi ainda nos anos de 1990. Nela, procuro compartilhar uma experiência imaginária, mas que, no fundo, tem a ver com a minha própria experiência como leitor precoce. Ainda muito pequeno, ganhei do meu Pai um livro com uma historinha chamada "O Patinho de ouro", acompanhada de uma narrativa em um "compacto" (disco de vinil de curta duração). Na história, havia um bom velhinho, um menino inocente e um patinho, que botava ovos de ouro. Aproveito para compartilhar a capa desse livrinho (original), que guardo com imenso carinho. Essa foi a minha iniciação como leitor.
Esse personagem, João, dono do pato, foi associado ao personagem do conto de João Antonio.
O restante da história é pura imaginação!
Espero que apreciem.
Conheci, nos meus tempos do antigo ginásio, um especialista na afinação da arte de chutar tampinhas de garrafas. Na verdade, foi um conto, baseado na obra de João Antonio, apresentado a nós pelo então professor de português, Ernesto Emboaba, que se autoproclamava o mesmo "Arnesto"; aquele cantado por Adoniram, o Barbosa. Mas isso é conversa pra um outro momento.
Além de um um exímio craque na arte de afinar tampinhas, que poderia soar para muitos como um "estranho esporte", o sujeito era implacável consumidor dos mais diversos tipos de refrigerantes.
Isso foi o mote para, em nossa imaginação, dar continuidade a história, que é nossa, não dele, o João Antonio
Continuemos, então, me reportando ao dia de hoje.
Um dia comum, como tantos outros. O sol fustigava o asfalto, pintantdo de branco as esquinas. E em uma delas, se encontrava uma figura pitoresca. Jeitão napolitano, óculos de lentes grossas, tinha um aspecto simpático. Não era gordo, nem magro, apenas era. Então, caríssimos, vocês poderão imaginá-lo como quiserem, deixando-o assim mais original e a vontade no enredo.
Como disse há pouco, o sol estava forte. As pessoas andavam apressadas, os carros, o dia... e aquele velho, ali, diante dos meus olhos desafiando a lei da idade (e por que não dizer da gravidade?), fazendo e refazendo bolinhas de sabão, recheadas de arco-iris. Saiam aos borbotões, carregadas pelo vento, misturando-se aos transeuntes, aos jardins da praça, em profusão.
Diante dele, alguns olhinhos curiosos brilhavam como pequenas estrelas, fascinados com o espetáculo. Um aglomerado de crianças ia se formando para ver o mágico fazedor de bolinhas de sabão.
Eu de longe acompanhava aquela cena inusitada. Pra ser sincero com vocês, há tempos não via alguém fazendo tais bolinhas, ainda mais em tamanha quantidade!
- Quanto anos o Senhor tem? Gritou uma vozinha excitada no meio do burburinho.
- Ah, isso é segredo, respondeu o senhor fazedor de bolinhas.
- Mas pra não deixar o senhorzinho decepcionado, posso dizer que talvez uns duzentos.
- Duzentos? Espanto geral.
Outra pergunta de uma vozinha rouca emendou:
- Como um velhinho pode ficar o dia todo fazendo bolinhas?
_ Chiuuuuu! Isso é outro segredo. Disse o velhinho com ar maroto, levando o dedo indicador aos lábios e continuou:
- Venho de um lugar muito, muito distante! Lá todo mundo, quando era criança, fazia bolinhas de sabão e um montão de outras coisas gostosas. Porém as crianças foram envelhecendo e não se preocupavam mais em fazer nada, muito menos brincar. Sabem por quê?
- Nãooooo. Responderam em coro dezenas de vozinhas alvoroçadas.
- As máquinas faziam tudo por elas. Ficavam o dia inteiro sem fazer nada, não saiam mais de casa, se esqueceram de como se faziam bolinhas de sabão, ou ainda de como subir em árvores, gostar dos animais...
De repente, sua fala foi interrompida por uma pergunta veloz.
- E quando o senhor vai voltar pra lá?
- Não sei, ainda. A porta agora está fechada. Só poderei voltar, quando uma criança achar a chave para mim.
- E como podemos ajudar o Senhor? Falaram juntos vários olhinhos aflitos.
- Isso é fácil, meus amiguinhos. Todas as vezes que vocês virem uma dessas bolinhas por ai, pensem no que acabei de contar. Reparem bem, porque nela poderá ter um arco-iris desenhado, e lá talvez tenha uma chave escondida.
Dizendo isso, o simpático velhinho soltou uma grande baforada de bolinhas e desapareceu. Em seu lugar restou apenas uma sombra colorida, que foi sumindo aos poucos.
Que história mais doce e também real, pois eis que as máquinas nos dominam e a inocência não só das crianças, mas também a nossa, está indo embora. Não há mais tempo para se divertir e apreciar o encanto que contém uma bolinha de sabão. A imaginação está sendo sufocada, pois o simples se tornou algo pobre.Que tempos bons nos quais podíamos sonhar e viver da imaginação... ✨