Hoje, diferentemente de outras publicações, compartilhamos a tradução de um dos poemas de Nazim Hikmet. Penso que, por terras tupiniquins, poucos o conhecem, pois fora das "bolhas literárias específicas" a boa literatura parece caminhar à margem do senso comum, em uma sociedade quase acéfala.
Soube de sua existência em conversa com a amiga e semitocista Lucia Skromov. Em uma de suas experiências literárias, que ela denominou "transliteração", compartilhou a releitura de um poema, que evoca negações em antíteses, permeando, talvez, (im)possibilidades existenciais.
É por meio dessa "releitura" que adentramos no ainda, ao menos para mim, universo literário encantador desse poeta turco, reconhecidamente um dos melhores da vanguarda da Turquia, segundo especialistas.
Texto original
24 Eylül 1945
En güzel deniz:
henüz gidilmemi olanıdır.
En güzel çocuk:
henüz büyümedi.
En güzel günlerimiz:
henüz yaþamadıklarımız.
Ve sana söylemek istediğim en güzel söz:
henüz söylememiş olduğum sözdür
Sobre o autor
(Salónica, 20 de novembro de 1901 – Moscou, 3 de junho de 1963) foi um poeta e dramaturgo turco, conhecido na Europa como o melhor poeta de vanguarda da Turquia, sendo os seus poemas traduzidos para diversas línguas, sem exceptuar o português.
Nascido em Salónica, no Império Otomano, situada no seio da actual Grécia, foi registrado a 15 de janeiro de 1902, embora tenha nascido efectivamente no dia 20 de novembro do ano de 1901, mesmo no início do século XX.
Hikmet pertenceu ao Partido Comunista da Turquia, sumariamente TKP, tendo sido por isso muitas vezes perseguido pelos realistas.
Apesar de ter escrito primeiramente poemas com sílabas métricas bem definidas, o seu género distanciou-se dos géneros dos chamados "poetas silábicos", sendo, em parte por tal, denominado vanguardista. Pelo contrário, os seus poemas distinguiam-se pelas formas confusas e conceptuais. Aliás, todos eles contêm diversas propriedades linguísticas da Turquia.
Texto traduzido (Transliteração)
No 24 de setembro de 1945, já não estamos em guerra , mas sempre há guerra, essa guerra de difícil combate para alcançar aquilo que é preciso e que ser quer: um mundo onde não terá mais lugar tais sentenças:
O mar mais bonito ainda não foi navegado (NHikmet) (mas as suas águas se movimentam - Lskromov).
A criança mais bonita ainda nem nasceu (NHikmet) (mas já foi gerada na vontade dos homens -Lskromov).
Os melhores dias de todos ainda não vivemos (NHikmet) (mas virão como o brilho do sol
-Lskromov).
A palavra mais bonita é a que ainda não foi dita (NHikmet) (mas irromperá com a força da sua natureza - Lskromov).
Sobre a tradutora
Lúcia Skromov, lutadora incansável das causas sociais, que acredita na construção de uma sociedade justa para todos e todas. Sua militância perpassa diferentes momentos de nossa história recente, sendo, também, a arte e a literatura em particular uma de suas arenas de atuação. Para saber mais sobre a nossa tradutora de hoje, leia o artigo
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